sábado, 25 de dezembro de 2010

Só Porque Eu Te Amo

Saí do banheiro e percebi que Júlia tinha deixado meu telefone em cima da cama.


Eu comecei a me estressar quando a chamada atingiu o terceiro toque sem resposta. Após o seguinte ela atendeu. Esbaforida.
– Oi, J! Eu... ia... te... ligar... neste... instante...


– Você estava correndo?
– Eu subi... a escada... de um pulo... Esqueci o telefone... aqui em cima... Sabia que era... você...


– Em cima? Em cima da onde? Onde você está?
– Na casa de uma... amiga. – Aos poucos, a respiração dela foi voltando ao normal. – Eu disse que tinha amigas... pra visitar, não disse?


– Nunca mais me dê um susto destes, Anjo. Meu coração não aguenta...
– Jack, a bateria não acabou. Eu desliguei meu celular. Não podia adivinhar que íamos ser vítimas de paparazzi em Paris! Muito menos que minha mãe ia surtar, me desculpe por isso.


– Ela não surtou. Ela ficou nervosa... Eu também fiquei nervoso!
– Não justifica ela ter ido até a sua casa... Ela já falou muito no meu ouvido hoje, e vai falar muito mais assim que eu pisar aí... Coitado do Thales. Sei que vai sobrar pra ele também.


– Você mentiu, Anjo... Tem que arcar com as consequências disso agora...
– Eu sei, e vou... Quando eu voltar.


– Porque desligou seu celular?
– Porque eu não podia atender ninguém.


– Nem a mim? – Que pergunta imbecil! Quantos anos eu tenho agora? Cinco?
– Naquele momento não dava, J...


Eu fiquei engasgado. Naquele dia, no hotel, eu achei que ela tinha desviado o olhar para não me encarar. E então não pode me atender? Não me contive e perguntei:
– Por quê?
– Você não pode me atender mais cedo hoje, J. Eu não estou te questionando sobre isso, estou?


Eu poderia ter dado a desculpa do valium, mas achei melhor calar. Ela notou meu silêncio:
– J... Não fique chateado. Não é nada. Eu só quero que fique tudo bem.
– Eu também, Anjo. Mas não suma de novo. Se for desligar seu celular, pelo menos me avise...


– Hey, J... Você não está bolado com isso, está?
– Não... – Menti.


– Jack... Eu faço um relatório detalhado e ilustrado pra você, ta bem?
– Não to aqui pra te controlar, Aretha. – Embora eu quisesse. – Eu te amo e me preocupo com você. É só.


– Eu sei que não... Só pensei que você podia achar interessante a parte ilustrada. Mas tudo bem... – Ela estava tentando ser maliciosa. Resolvi aderir:
– À cores? Hummm... “High Quality”?


– “Arram”! – Ela assentiu.
– Eu tenho direito a demonstração ao vivo da parte ilustrada?


– Você está fazendo muitas exigências... Mas eu vou atender... Só porque eu te amo.


Fazia muito tempo, e eu havia me esquecido de todos os outros sentimentos atrelados ao amor. Saudade, ansiedade, ciúmes, insegurança... Aretha ainda ficaria mais alguns dias na França, e eu teria que lidar com eles me alfinetando agora.


No dia seguinte, Ronaldo me chamou para jantar. Embora não tivesse mencionado nada ao telefone, eu sabia o motivo do convite. Provavelmente era o que todos os meus amigos deviam estar se perguntando a esta altura, talvez alguns desconhecidos também. Pelo menos eu pararia de pensar no que ela está fazendo lá sem mim.


É impressionante como a ignorância faz toda a diferença. Enquanto eu não sabia nada sobre os pasquins e as fofocas, eu não estava nem aí. Agora, nos poucos minutos em que fiquei esperando por Ronaldo no restaurante, achava que todos olhavam pra mim e cochichavam. Paranóia. Nem a banda nem eu andávamos pela mídia havia muito tempo.


Então a notícia não deve ter causado tanto frisson. Fato que não estavam me caçando atrás de depoimentos nem nada, e as fotos de Paris já haviam ido para o miolo dos impressos. Ronaldo chegou e eu me acalmei.


– Fala aí, brother! Como vai essa força? – Gordo me cumprimentou.
– Na medida do possível, após o temporal.


– Então é verdade? Você e a filha da Tara estão mesmo...
– Juntos. – Completei. – Sim, estamos juntos. Marley teria confirmado pra você.


– Pô, irmão! Qual é? Que tipo de amigo acha que eu sou? Eu não perguntaria para o Marley, mesmo tendo certeza que ele devia saber de alguma coisa.
– Desculpe, Gordo! Esta história está acabando com meus nervos.


Nós nos sentamos.
– Como Mark e Tara reagiram?
– Acho que dentro do esperado. Difícil dizer... É tudo tão...


– Complicado. – Agora foi a vez dele completar. – Eu imagino...
– E você? Como está? A Clarissa e a Maria?


– Estamos bem...
– Clarissa não deve querer me ver nem pintado...


– Escuta, Jack! Eu te conheço desde o colégio... Isso tem o quê? Trinta anos? Acho que é mais do que suficiente, pr’eu saber que você não é um mau caráter! Não esquente... As coisas se acalmam e as cabeças pensam melhor...
– Obrigado, Gordo! De coração.



2 comentários:

  1. Aretha está muito reticente quanto a "amiga"... Só o J não entende...
    Gostei da parte que vai "ilustrar". Vamos ver? :}
    Gordo é um amigo e tanto!

    Amo!
    bjosmil! *.*

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  2. Haushuahsa, vamos nada, Aretha não é boba, só mostra pro J... XD Gordo é amigaço mesmo!

    Obrigada, Mita!

    ..: Bjks :..

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