segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Lyon

Acordei procurando Aretha com meu braço, mas só consegui achar os travesseiros. Eu sonhei?!


Abri os olhos num rompante, me dando conta de que podia ter feito tudo errado. Mas como eu poderia estar tão enganado? Então a percebi sentada na cama, me observando.
– Aretha... Acordou cedo...
– Eu não dormi. Eu queria ir embora pra não ter que me despedir de você, mas também não consegui, J. – Seus olhos se encheram d’água.


 Eu a abracei.
– Mas porque, Anjo? Eu não vou demorar, já disse...
– Eu sei que não, são só meus medos tolos...


– Que medos?
– São tolos, eu já disse! Me beija... Vou morrer de saudade mesmo assim.


Apesar de minha curiosidade a respeito dos temores de Aretha, eu me calei e obedeci tal qual escravo. Também morreria de saudades.


 – Eu te amo, Jack. Volte para mim.


Quando pousei em Lyon, Gabe estava no meio de uma aula. Eu não quis atrapalhar. Larguei as malas no hotel e fui até um bistrô ali perto, onde combinamos de nos encontrar.


Ficar ocioso estava ruim demais pra mim. Tentava me desligar, mas não conseguia e Aretha não facilitou em nada as coisas ao me proporcionar uma noite absurdamente fantástica algumas horas antes d’eu embarcar. Ainda sentia o cheiro laranja-floral do perfume dela em mim, mesmo depois de dois banhos.


– E aí, pai! – Gabriel cumprimentou ainda afastado, me fazendo sacudir a cabeça e me tirando do estado letárgico em que me encontrava. – Fez boa viagem?

Ao seu lado, uma garota incrivelmente linda, que imaginei ser Eduarda.


Lembrei de Aretha novamente, daquela vez na lanchonete, dizendo ter esperanças que a menina fosse tão feia quanto ela achava ser seu nome. Eu sorri, visualizando a careta que provavelmente ela faria.
– Pai? Ta tudo bem com você? – Gabriel perguntou nervosamente.


Eu me levantei para abraçá-lo.
– Claro! Err... Desculpe, eu estava distraído... Ah, Gabe! Quanta saudade, meu filho!
– Pô, pai! Eu também!


– Pai... Essa é a Duda... Que eu te falei... Ela ainda não entende muito bem a nossa língua, mas... Eu estou me empenhando! – Ele sorriu com malícia.


– Olá, Duda... Prazer.
– Prazer, monsieur Jack. – Eduarda me cumprimentou puxando todos os erres.

Ruiva. Como a Flora. Espero esse gene não esteja relacionado à personalidade. Flora era ciumenta e possessiva demais.


Nós nos sentamos para jantar e Gabe me deixou a par de sua vida nos últimos meses de uma maneira resumida, não disfarçando olhares e gestos na direção de Eduarda, que pouco falava, apenas sorria. Acho eu que nos momentos em que entendia alguma coisa.
Eu fiquei feliz, pelo menos aparentemente ele tinha superado a “crise Alanis”. Mas isso era mais fácil por ele estar a quilômetros de distância? Talvez. Não havia como saber.


– Mamãe esteve aqui com Sandro tem mais ou menos um mês... – Contou.
– Ah, legal... – Mostrei meu desinteresse. A vida de Victória só me interessou enquanto Gabriel não tinha idade para encarar determinadas coisas. Depois que ele passou a entender tudo, prefiro nem saber.


– Júlia e Ana também vieram, mas já tem mais tempo... Só faltava mesmo vir você.
– Então... Estou aqui!


– Ah, pai, já preparei nossa agenda! Tem um monte de lugares que eu quero te levar... – Ele disparou animado, de repente.
– Err, Gabe... Eu não vou ficar... Só uns dois ou três dias...


– Como assim?! O que quer dizer?

Eu tinha mudado meus planos. De improviso, mais uma vez. Em princípio eu disse que ficaria por volta de duas semanas, mas assim que pisei em Lyon descobri que não conseguiria me afastar de Aretha agora.


Eu estava ali há poucas horas e já sentia meu coração apertado.
– Gabriel, nós precisamos conversar.

Ele levantou uma sobrancelha, desconfiado:
– Você me chamou de Gabriel... É sério?


– É muito importante. Mesmo...
– Você não está com alguma doença terminal, está? – Ele perguntou receoso.

De certa forma isso me tranquilizou. Minha notícia nunca seria pior que isso. Ou seria?


Eu sorri para acalmá-lo.
– Não, Gabe! Não estou doente... Nem a Júlia, está tudo bem. É uma coisa boa. – Pelo menos era pra mim.
– Não entendo porque não pode ficar então... Só se... Os Hell’s vão voltar a tocar! Ah! Que maneiro!


– Não, Gabe! Pare de tentar adivinhar. – Ele não conseguiria mesmo. Nem em mil anos. – Vamos acabar de comer em paz?


Meu celular soou antes de terminarmos a refeição. Foram três bips breves, indicando que havia uma mensagem. Eu não consegui esperar. Aretha podia estar precisando de mim. Peguei o aparelho para ler:
“Quando chegar ao hotel, não deixe de pegar seu e-mail. Te amo, A.”


Tentei disfarçar a ansiedade, mas acho que falhei. Gabe perguntou me fitando desconfiado:
– Algum problema?
– Ah... Não... Propaganda da operadora. Nada de mais. – Eu odiava mentir pro meu filho. Mas a verdade daquela forma ele não entenderia. Talvez de forma nenhuma.


 Eu me sentei outra vez. E terminamos o jantar.


Do bistrô, voltei direto para o hotel. Pedi a Gabe que deixasse Eduarda em casa e viesse me encontrar para conversarmos.


Óbvio que a primeira coisa que fiz quando entrei no quarto foi passar a mão no laptop para checar meu e-mail.
Procurei pelo nome dela direto e abri.


Era um “voucher” de passagem aérea. E logo abaixo dos informes e códigos alfanuméricos a mensagem dela.
“Escolha a data e me avise. Te vejo em Paris. Beijo, Aretha.”
Eu não podia acreditar.


Passei a mão no telefone e liguei. Desligado. Tentei outra vez. Igual. De novo e de novo. Nada.


Desci um pouco mais o “scroll” da janela e encontrei a resposta para pergunta que eu me fazia mentalmente.
“PS: Não adianta ligar. Responda meu e-mail. Também te amo. Aretha.”
Louca. Completamente. E eu estava louco por ela.


Fechei o laptop e entrei no banho. Deixei a porta do quarto destrancada, pois sabia que Gabriel podia chegar a qualquer momento.


E como previ, ele de fato chegou, eu ainda me encontrava chuveiro. Ouvi a porta bater.
– Já cheguei, pai! – Disse tentando vencer o barulho da água.
– To saindo! – Respondi.


Eu não sei se Gabriel já estava com uma pulga atrás da orelha desde o bistrô, ou apenas quis se distrair enquanto me esperava. Não posso nem palpitar, porque não presenciei a cena completa. Mas o caso é que Gabriel abriu meu laptop. E deu de cara com o e-mail de sua ex-namorada para mim.


 Eu saí do banheiro a tempo de encontrá-lo lendo a frase final de Aretha.


Ele já se levantou um tanto alterado.
– Eu... Eu... To tentando encontrar meios de acreditar que haja algum engano aqui. Mas... Mas... Está complicado... Te juro, pai! Está complicado! Por favor diga que eu não li isso!


– Você sabe o que você leu. – Fui duro. Afinal ele abriu meu laptop sem perguntar, o que eu poderia responder? E depois, eu havia ido até lá para isso no final, só que não foi bem assim que imaginei.


– Você pirou?! – Ele exclamou com raiva.
– Não, Gabriel, eu não pirei. Eu me apaixonei. É diferente...


– Dá no mesmo, levando em conta a diferença de idade e a filiação da garota!
– Ah, “pera” aí! Que preconceito é esse pra cima de mim?


– Pai! Você é “coroa”! Ela é minha ex-namorada! É mais nova do que eu! Pai, ela é filha de um ex-caso seu! Isso é ridículo!
Eu me aborreci.
– Gabriel, a Tara não é um “ex-caso meu”! Ela foi minha namorada. E minha noiva! E quer saber? Eu não vim até Lyon discutir o que você acha ou não acha ridículo. Eu vim falar com você sobre o que aconteceu. Mas pelo visto, você não quer ouvir!


– Agora eu entendi porque você não vai ficar... Paris é muito mais interessante! – Ironizou.
– Gabe, eu acabei de ler esse e-mail. Eu ia voltar para casa...


– Ia voltar para ela, do mesmo jeito.
– No que isso te incomoda? Você ainda gosta dela? Se tiver qualquer suspeita quanto isso é o momento de falar.


Gabe calou. Pensei também que o ciúme pudesse ser do filho, e não do ex-namorado. Tentei ponderar. Ele continuava emburrado e sem me encarar.
– Gabriel... Sei o quanto deve ser difícil pra você. Tente imaginar o quanto está sendo difícil pra mim.


– Eu não acho que seja difícil. Acho constrangedor. Eu estou com vergonha.
– Eu lamento muito que pense assim, meu filho.


– Boa viagem, pai. Divirta-se em Paris! – Gabriel desejou, sem sinceridade, ao me deixar.


Eu me joguei no sofá. Achei exagerada a atitude de Gabriel. Mesmo assim, fiquei abalado. O que eu estava esperando também? Um abraço e um: “É isso, aí, coroa! Ta mandando!”? Eu podia mesmo estar ridículo! Um velho ridículo pegando garotinhas. Quantas piadas sobre isso eu ainda teria que escutar?



3 comentários:

  1. Eu me coloco no lugar do Gabe e acho que me sentiria da mesma forma, enciumada, raivosa... Mas... Acho que no final, quando a gente enxerga a felicidade de quem amamos, passa!
    PARIS!La ville de lumière, où l'amour fleurit!
    J'aime!!!!
    Mille baisers!!!! *.*

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  2. Falou tudo, Mita!!! ;)
    Também penso assim!
    Hehehe Paris! sinis*

    Brigadinha!

    ..: Bjks :..

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  3. Só vou ter uma opinião sobre Paris quando eu for pra la... sabe-se Deus quando... aushauhsuha

    Estar no lugar do Gabe seria mesmo dificil, ainda mais a Aretha sendo ex namorada... =/
    Bem, agora ele ja sabe, é encarar os fatos e os preconceitos q estão por vir.

    Bjos

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