Um Homem de Família

Eu estava feliz.
Júlia, minha filha mais velha, adotada aos 7 anos de idade, acabara de terminar a pós-graduação em Gestão da Indústria Cinematográfica, na mesma Universidade em que me formei. A vantagem de se ser pai tão cedo, é que eu quase conseguia acompanhar seu ritmo. Quase.

Apesar de não me considerar careta – sou um tecladista de certa fama e cansei de viajar o mundo com uma banda de rock alternativo –, existem certas coisas que nem a psicologia explica nos relacionamentos entre pais e filhos.

Estava especialmente grato por ela ainda querer morar comigo, apesar de já ter sua independência financeira, e manter um relacionamento bastante estável com o Hélio. Mas isso não implicava que eu pudesse controlar sua vida e seus horários. Não que eu seja um chato. Apenas um pai preocupado.

Gabriel, meu filho biológico, está cursando Música também na UNESim. Vem pra casa apenas nos fins de semana e feriados, ou nas férias. Ele é um excelente pianista. Prefere a música clássica.

A Ana estava cada vez mais ocupada... Ainda fazia sucesso nas telas de cinema mundo a fora, e seu rosto tramitava capas de revistas femininas. Agora que Júlia terminara a pós, Ana provavelmente a arrastaria consigo. Ela era a única que não havia entrado na casa dos 40. 

Minha vida estava bem tranquila. Os anos de ritmo alucinado e viagens incessantes haviam acabado. A nossa banda, os Hell’s Messengers, já tinha mais de 20 anos de estrada. Isso nos rendia bons frutos, mas não fazíamos mais tantos shows em espaços curtos de tempo. Minha agenda tinha tempo de sobra, mas não havia a quem dedicar.