quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Rotina?

E a minha semana seguiu  na sua rotina habitual.
Correr no calçadão da praia todo dia de manhã. E arrematar com um mergulho refrescante e revigorante. Ser reconhecido e parar uma vez ou outra para tirar fotos ou dar autógrafo era um preço baixo a pagar pelo prazer que isso me proporcionava.
Voltava para casa, tomava um banho e folheava o jornal.


Depois preparava algo pra comer ou pedia qualquer coisa. Às vezes tocava um pouco de piano...  Ou então alugava alguns filmes pra ver. E um pouco antes de anoitecer, eu me internava na academia. Não era só por vaidade. O tempo gasto ali funcionava como uma terapia. Era o momento em que eu nunca estava sozinho.


Eu não estava abandonado. Alguns amigos volta e meia apareciam. Principalmente o Gordo e o Marley. De preferência quando Carmita e Clarissa inventavam de ir ao shopping. Eu não tiro a razão deles. Bem, taí uma vantagem de ser solteiro.


Estava tudo indo bem. Até sexta-feira.
Acordei com um barulho. Parecia que alguém estava esmurrando a porta da frente. Levantei no susto, me enrolei numa toalha e desci correndo. Onde diabos estava a Claudinete ou o Reginaldo?


Olhei o relógio. Eram seis e meia da manhã, ainda não havia clareado. Imaginei que fosse Gabe, e pudesse ter esquecido a chave. Mas porque tão cedo e com tanta pressa?


Já abri a porta de supetão e mal-humorado.
– Porque não derruba logo a porcaria da... – Não completei. E não era o Gabe.


Aretha nem olhou pra mim, nem me deu bom dia. Ou boa noite, dependendo de onde ela tivesse saído. Me perguntei se Tara tinha alguma idéia de onde estava sua filha agora. A garota passou direto, voando em direção as escadas.


Eu ainda segurava porta aberta com cara de idiota quando ela desceu na mesma velocidade, e furiosa.
– Onde ele está? – Agora ela falava comigo.
– Bom dia Aretha... – Respondi.


– Bom dia, Jack. Desculpa. – O arrependimento se estampou no rosto da menina, acho que parte pela minha cara de choque quando meu olhar cruzou com o dela.



– Aretha, eu... O que está acontecendo? – Perguntei.
Ela ficou envergonhada de repente. Como na última sexta, ao ser-me apresentada como namorada do Gabe.
– Eu pensei que ele estivesse aqui com aquela... Aquela... Grrrr – Grunhiu.


– Aquela quem?
– Não quero pronunciar o nome daquela insuportável.


– Flora? – Chutei.
Ela fez uma careta à menção do nome da ex-namorada de Gabe.


Eu sabia que ia me arrepender, mas mesmo assim perguntei:
– Quer conversar sobre isso?
Aretha fez uma expressão tão carente que não foi necessária resposta.


Então num impulso me abraçou pela cintura, descansando o rosto no meu peito, como já havia feito tantas vezes, quando era criança e brigara com Gabe. Mas ela não mais batia no meu umbigo.
– Ah, Jack...


Eu, então, a amparei.
– Me espera aqui, ta bom? – Lembrei que ainda estava de toalha. – Eu vou só me vestir e já desço.
Ela consentiu.


Enquanto subia e me trocava, tentei imaginar o que poderia ter se passado com esses meninos enquanto eu curtia minha semana “normal”. Eu acho que estou perdendo minha criatividade, porque não consegui pensar em nada. Tudo que vinha na minha cabeça agora eram aqueles malditos olhos negros. Eles estavam marejados e eu estava curioso por saber o motivo. Porque? Droga!


Encontrei Aretha recostada no sofá do hall. Era nítido que estava chorando. Era um choro controlado, que ela tentou esconder quando me viu.


Ela se endireitou e eu sentei ao seu lado. Fiquei esperando que ela falasse, mas ela apenas fungou. Eu não sabia começar esse diálogo e ela não estava facilitando as coisas pra mim.


– Está com fome? – Perguntei.
Ela fez que não com a cabeça. Muda. Ela vai falar ou não? Eu não queria parecer ansioso. Mas que droga, eu já passei por crises assim com a Júlia porque isso estava sendo tão complicado? Porque ela não era minha filha, ou justamente por ela ser filha de quem era?


– O que foi que houve? – Arrisquei finalmente.
– Eu acho que o Gabe voltou para ela... – Disse tristemente. – Pensei que ele gostasse de mim. Mas ele não esqueceu aquela idiota.


Gabe conheceu Flora na UNESim. Mais ou menos como aconteceu comigo e Tara, ele já morava na república onde ela foi parar, um ou dois anos depois, acho que junto com a Alanis. Mesmo eu podendo proporcionar a Gabe sua própria casa no Campus, ele preferiu a república. Acredito que, no fundo, ele queria viver uma experiência parecida com a minha. Acabou se apaixonando também por sua colega.


Eu posso arriscar dizer que Gabe amava Flora. Mas como eles brigavam! Ela era exageradamente ciumenta, e bem... O Gabriel sempre fez sucesso entre as garotas. Já era uma criança linda e se transformou num rapaz encantador. Até porque, muito além de sua aparência física, ele era extremamente sensível, gentil, carinhoso e dedicado.


– Porque pensa assim, querida?
– Eu os vi... Juntos. No salão da república. Arremessei meu caderno de Química Analítica na cara de Gabriel e saí correndo.


– Achei que vocês tivessem terminado...
– Ah, ele te contou, então... – Pronto. Porque eu sabia que iria me arrepender.

Eu não estava preparado para ter com ela, a mesma conversa que tive com Gabriel, caramba!


Aretha deitou a cabeça no meu colo e eu não sabia o que fazer com as mãos.
– Eu pensei que ele gostasse de mim como eu gosto dele, Jack.


Eu afaguei seu cabelo, ainda receoso de minhas ações.
– Como pode saber o que sente sendo tão recente, Aretha? Você é tão impulsiva... Tenho certeza que o Gabe gosta de você... Por gostar de você é que ele se comportou desta maneira.


Ela se sentou de repente. Eu me assustei.
– Que maneira?! – Exclamou com raiva. – Agarrando aquela maldita ruiva na frente de todo mundo?!
– Aposto que ele tem uma explicação pra isso... – E rezei mesmo para que ele tivesse.


Nesse momento a porta se abriu de forma brutal e Gabriel entrou, transtornado. Não reconheci meu filho com aquela expressão. Tinha mesmo que ser a filha de Tara para causar uma reação dessas numa pessoa como ele.


Levantei-me para cumprimentá-lo, mas Gabe nem olhou pra mim.
– Onde é que você estava? – Rosnou para ela.
Eu intervi.
– Ei, ei, ei, Gabe! Quê isso, meu filho?! Isso é jeito de falar?!


– Essa... Louca! – Gabriel apontou. – Arremessou um livro na minha cara!
– Caderno... – Ela corrigiu.
– Escutem... – Ponderei. – Acho que vocês deviam conversar, mas não vou sair daqui antes de você se acalmar, Gabriel.


Aretha se pôs de pé e Gabriel me alertou:
– Não saia! Não tô respondendo por mim! – Ele voltou-se para Aretha. – O que deu em você? Ficou maluca?
– Eu?!! O que VOCÊ estava fazendo grudado naquela... Naquela... Bruxa!?


– Eu não estava grudado em ninguém! E se estivesse... Foi você que terminou comigo!
– Eu estava indo lá para resolvermos isso!


– Ah, ta... Claro... Como é que eu não vi isso na minha bola de cristal?! – Debochou.
– Bom, pelo visto você não sentiu minha falta mesmo... Foi bem consolado, eu vou embora!


– Eu passei a noite inteira te procurando, Aretha! Como pode dizer isso? – A voz dele agora estava um tanto mais suave.
– Passou? – Aretha também estava mais calma.


– Onde foi que você se meteu? Eu fiquei preocupado.
– Eu fiquei muito nervosa... E corri... Nem sei pra onde tava indo... Quando dei por mim eu estava na praça central... Já era noite... Estava começando a ficar frio, mas não quis voltar pra casa... Eu fui pra antiga torre, e fiquei lá. Pensando em tudo...


Era a hora de me retirar. Deixei os dois a vontade e fui pra cozinha preparar um café da manhã para gente.


De onde eu estava era possível continuar escutando a conversa. Aretha ainda falava:
– Só que depois eu... Me arrependi e... Voltei. Queria pedir desculpas, Agi impulsivamente de novo... E quando eu chego na república... Você não está mais lá! Nem ela! Achei que estivessem juntos! E vim pra cá, te catar.
– Lindinha... – Eu podia visualizar mentalmente Gabe alisando seu lindo rosto. – Eu estava te procurando...


– Mas e ela? A ruiva maldita?
– Como vou saber onde ela estava? Não é mais problema meu...


Ficou um silêncio que me fez deduzir que eles haviam acabado de fazer as pazes.



2 comentários:

  1. Ok... Queria eu uma rotina dessas!
    Mas a minha grande pergunta é: Por que ele só percebeu que estava de toalha quando abraçou a Aretha? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Acho engraçado como ele usa desculpas pra ouvir atrás das portas... huashuashuashuashuashuashuashuash

    AMO!
    bjosmil! *.*

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  2. Ah, vai vc sabe porque, ahsuahsuahsauhsuahsuahsuahsuashu, não me faça falar :W
    Ah, quanto ao lado "eu sei o que vcs fizeram no verão passado"... J é o maior fanfarrão! Hauhsuahsauhsauhsauhsau!

    Sabe o que é melhor??? Poder ficar a vontade pra falar qualquer coisa sem medo de pegarem no seu pé!!!!!!!! .we.

    ARRÁ, URRU, o blogger é nosso! \o/

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