quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Nova Namorada de Gabriel


Era sexta-feira à noite e Gabe chegou da UNESim com um sorriso diferente no rosto.
– Paiêêê!!! Ô pai!!! Onde você tá? – Perguntou a esmo avançando e me procurando por dentro da casa.
– Na cozinha! Terminando de fazer alguma coisa pra gente comer. O Super Bowl vai passar na TV a cabo. Eu já reservei pra gente ver.




 Ele ficou nitidamente sem graça ao saber da minha programação ao mesmo tempo em que surgia na porta da cozinha.
– Ah... Pai... É que... Eu tinha outra coisa em mente...
– Bom. Tudo bem... Vai sair com a galera?




 Mais uma vez o constrangimento no seu rosto me fez achar que havia alguma coisa estranha em tudo aquilo.
– Não... Eu... Pai... Eu tô acompanhado.
– Ah! Ok... Voltou pra Flora ou...?




Agora seu semblante era de vergonha. E eu não conseguia entender o motivo. Ele sempre me apresentou sem traumas as poucas namoradas que teve. Ta certo que com essa última, a Flora, havia sido um relacionamento mais longo e conturbado. Mas se não era ela, o que podia estar deixando meu filho tão constrangido?




 – Você pode vir comigo até o hall, por favor?
Concordei. Eu sabia que a garota devia estar lá, esperando para ser apresentada. Mas nunca podia imaginar que fosse ela.




A figura mais que conhecida abriu um sorriso para mim:
– Oi, tio J... – Cumprimentou Aretha. As bochechas completamente coradas.




Senti urgência de um apoio e me deixei escorregar para o sofá.
Precisei de um minuto pra processar a informação.




Aretha sempre frequentou livremente nossa casa. Desde pequena. Aliás, todos eles. Ela, Thales, Alanis, e até João e Maria, que são um pouco mais novos. Maria, a caçula da turma, foi adotada ainda bebê por Ronaldo e Clarissa. Era uma adolescente agora. Todos sempre foram muito amigos e muito unidos. Vinham passar o fim de semana ou apenas uma tarde regada de sorvete e mais um bando de porcarias que o “Tio J.” adorava patrocinar.




Mas havia muito, isso não mais acontecia. Naturalmente, foram crescendo, e a diferença de idade na fase da adolescência, sendo ela muita ou pouca, colaborou para um afastamento. Depois veio a universidade, e com exceção de Alanis que é minha afilhada, já não se viam tanto.




Eu me assustei com a garota na minha frente. Era o mesmo rosto sardento e jovial. Mas... Mais maduro, talvez... E o corpo magrelo e desengonçado havia ganhado curvas. A menina tinha tomado a forma de uma mulher. Mas do que nunca, uma cópia de sua mãe.




Sacudi minha cabeça. Gabe gemeu.
– Pai, você ta me matando... 




– Gabriel! – Eu o chamava pelo nome de batismo quando ficava nervoso. – Pode me explicar?
– Pai. Eu e Aretha “tamos” tipo... Namorando. Pronto, falei.




– Esta parte eu acho que entendi. Mas quando? Como?
– Pai...
Gabe estava a ponto de me puxar para fora da sala.




Aretha resolveu se manifestar.
– Tio... Errr, quer dizer... Jack... – Meu Deus, ela nem sabia mais como me chamar!
– Sim, Aretha. – Dei uma enorme tragada no ar. Como se realmente fosse fazer minha respiração voltar ao normal.




– Eu posso contar...
Eu tentei me concentrar na história romântica que Aretha narrava, mas minha mente viajava mais adiante. Pensava na reação de Tara recebendo a notícia. E não consegui conter um leve sorriso ao imaginar a reação de Mark.




– Seus pais já sabem? – Indaguei antes dela terminar.
– Ah... Não... Ainda não... – Respondeu. – Eu e Gabe achamos melhor falar com você primeiro.




– E porque?
– Não sei... Não pela mamãe... Mas o meu pai... Ele... Ah, tio, desculpa, também não entendo o motivo, mas ele fica esquisito quando a gente fala de você.
Meu sorriso se alargou discretamente, mas juro que foi involuntário.




Gabriel só sabia que eu e Tara havíamos tido um relacionamento amoroso no passado, porque ela estava comigo na época em que soube que seria pai. Eu não fazia idéia se Tara havia mencionado isso para os seus, acredito que não, pois ela não teria motivo para tanto.




– Ah, fica, é? – Perguntei fingindo desinteresse, enquanto me levantava. Meu equilíbrio já havia voltado.
– É... Sei lá...




Porque adolescente fala tanto “sei lá”? Se bem que não eu podia mais chamar Aretha de adolescente. Não como ela se apresentava agora.




– Também... Não to aí... Mês que vem faço 18. Ninguém vai mandar mais em mim.
– Falando assim, parece até que seus pais são opressores... – Respondi. – Aretha... Você sabe que não funciona desse jeito. Ninguém conquista independência fazendo aniversário.




Eu sei que nem a Tara nem o Mark interfeririam na escolha de sua filha, ainda mais conhecendo o Gabriel como conhecem. Mas duvido muito que Mark fique satisfeito. Não pelo meu filho. Mas por mim.




– Pai... Você vai ajudar a gente com isso ou não? – Gabe interrompeu o desvio que a conversa tomou.  Mesmo sem grandes detalhes, ele provavelmente podia entender o motivo de Mark não ir muito com a minha cara.
– É claro que vou, meu filho... – Eu não tinha muita escolha, tinha?




Gabe me abraçou com entusiasmo:
– Brigadão, pai! – Só então percebi o quanto ele estava envolvido. Eu não podia culpá-lo.




– Que cheiro é esse? – Aretha perguntou farejando o ar.
– Ih! Vai queimar.




 Corri para cozinha. Gabe e Aretha atrás de mim. Era tarde demais. Lá se foram as torradas que pensei em degustar em frente ao LCD de 54 polegadas da sala.
– Ah, tudo bem... Eu peço uma pizza. – Lamentei resignado.




 Acho que Aretha sentiu pena quando resolveu mudar sua programação.
– Errr, Gabe... Porque não ficamos e comemos uma pizza assistindo o jogo com seu pai?
Não duvidei que ela tivesse ouvido toda a conversa que antecedeu a notícia.




– Ah, lindinha... – Gabe alisou seu rosto. – Você queria tanto sair pra dançar... – Lembrou.
– Não se incomodem... Sigam sua programação que eu sigo a minha. To mais que acostumado. – Falei.




– Ah, tio! Bobagem... A gente dança amanhã... Heim, Gabe?
Ao pronunciar seu nome, Aretha se debruçou sobre Gabriel, e lançou-lhe um olhar tão sedutor que pensei ver as pernas do garoto tremerem. Ou talvez fossem as minhas.




Aretha era totalmente igual e completamente diferente de Tara.




Nós nos acomodamos no sofá para assistir o jogo após nos empanturrarmos de pizza.
Mas eu não fiquei a vontade...




Gabriel estava entusiasmado demais pra manter as mãos quietas. E Aretha... Bem... Aretha parecia precisar de uma ducha fria.




Às vezes eu me mexia para fazer os dois se lembrarem que eu estava ali. Porque mesmo que eles não foram dançar?




Quando Gabe arfou pela quarta vez eu me levantei e me espreguicei.
Os dois se soltaram um do outro sem vontade.
– Meninos, boa noite, estou morrendo de sono. – Menti. – Gabe... Você vai levar a Aretha em casa depois do filme, não vai? – Não era uma pergunta.




– Errrr... Ela disse pra mãe dela que ia dormir na casa da Paty. – Tentou despistar.
– Na, na, na, na, na... Nem pensar!




 – Ah, qual é, pai? Você nunca foi de encrencar com isso.
– Gabe! – Eu levantei a voz. – Aretha pode dormir aqui sempre que ela quiser, – ele abriu um sorriso, que logo se fechou – desde que os pais dela saibam exatamente onde ela está.




Não quis discutir. Virei as costas e subi, com a certeza de que Gabriel faria o que mandei. Sempre tivemos uma ótima relação. Com cumplicidade, mas também com respeito.
Não sou careta, volto a dizer, mas Tara não me perdoaria. Eu devo isso a ela. Por nossa amizade.



4 comentários:

  1. É... Seu filho namorando a filha de sua ex-noiva... Que destino, né?
    Mas achei interessante as pernas dele tremerem... rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
    Bem mais interessante vai ser a cara do M&T quando descobrirem sobreo namoro!
    bjosmil!*.*

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  2. Eu tb achei interessantérrimo o lance das pernas... Será pq? .lala.

    Mita, te amo amiga!

    ..: Bjks :..

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  3. Aretha é tão fofa e linda!
    Também adorei certas pernas tremendo... *lala
    Mas, sério, os meninos se pegando no sofá com ele ali foi tenso. >< Morri quando o J levantou pra afastá-los, kkkkkkkkkkk.
    Aiiin, amoooo! =*

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  4. Brigada, Suh queridaaaaaaa!

    Bjks!

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