sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Casa Cheia


Eu não sei dizer se passei a noite sonhando ou simplesmente lembrando de Tara.  Só sei que acordei sentindo o cheiro de seu perfume. Abri os olhos e sobressaltei-me. Aquele par de olhos estava olhando pra mim.




– Desculpa, Jack. Te assustei?
O que Aretha estava fazendo àquela hora da manhã no meu quarto?




– Aretha... – Tentei me recompor. – O que está fazendo aqui? Eu vou arrebentar o Gabe se ele não te levou pra casa ontem!
– Ah, não, ele levou... Não se preocupe. Eu que já estou de volta. Mas não sei onde ele está.




– Que horas são? – Eu não sabia se me cobria, se me levantava, ou se a expulsava. Eu não costumava trancar portas. Principalmente com crianças em casa. E apesar de não estar nu, eu não estava exatamente vestido.
– Sete. Será que ele foi correr?




As perguntas saíam tão espontaneamente. Como se ela tivesse conversando com uma colega de quarto. Onde foi que eu me perdi? Ah, sim...
– Aretha, meu bem... Me dá cinco minutos por favor...  Porque não dá um pulo na cozinha e me espera lá? Já tomou café?




– Ta bom... – Virou-se graciosamente, como se dançasse, e saiu.




Caí na cama de novo e ofeguei. O que é isso, meu Deus?!




Depois respirei fundo e levantei. Vamos lá... Eu vou esfolar o Gabe! Juro que vou!
Vesti a primeira calça que encontrei pela frente e desci.




Aretha estava na sala de jantar. Tinha aberto um pacote de batata frita e parecia estar se deliciando com aquilo.
– Batata frita? No desjejum? – Perguntei.
– Ah, Jack, vai! Você já teve a minha idade.




– Até ontem eu era tio J. pra você... E não é possível que isso esteja tão gostoso desse jeito de manhã.
– Ah, mas agora é um tanto esquisito eu te chamar de tio, não acha? E sim, está uma delícia. Quer?




– Não, obrigado... Você e o Gabe não estão mentindo pra mim, não é? Ele te levou pra casa, não levou?
Diz que sim, diz que sim, orei em silêncio.
– Pode ligar pra mamãe e perguntar... Aí você aproveita e explica porque ta perguntando. – E sorriu da própria piada.




– Gabrieeeeeeeeeeel!!! – Chamei aos berros.
Ela fez uma careta.
– Não adianta, eu já procurei. Ele não está. Deve ter ido correr, como eu disse...




Aretha terminou as batatas e se levantou.
– O que está fazendo aqui tão cedo? – Quis saber.
– A gente combinou de ir a praia.




– Você mora na praia, Aretha...
– Mas na praia lá de casa, a gente não pode ficar “a vontade”, se é que você me entende... – Seu tom agora era um pouco mais agressivo. Acho que ficou aborrecida com meu interrogatório.




– Desculpe... Não é da minha conta mesmo, não é?
– É... Não é...




Graças ao bom Deus, Júlia chegou em casa bem neste momento.
– Pai! – Chamou.
Aretha foi mais rápida:
– Aqui na sala! – Respondeu alto, me encarando.




Droga! Eu poderia jurar que ela fez de pura implicância.
Júlia já aportou na cozinha com a expressão de desconfiança no rosto pela resposta vir de uma voz feminina.
– Ah! É você, Aretha?! Nossa! Há quanto tempo! – Cumprimentou assim que a viu, e virou-se pra mim. – A Ana ta aí... Ta estacionando.




Providencial. Saí deixando Júlia encarregada de fazer companhia a Aretha e fui receber Ana na porta.
Havia quase um mês que não nos víamos. Ela estava fora, gravando. Seu sorriso sempre foi um porto. E lá estava ele outra vez.




Ana subiu a sacada da entrada e me abraçou.
– Que saudade, J. – Ela sussurrou.
– Muita... – Completei.




– O que você tem? – Perguntou ao se soltar.
– O que eu tenho oquê? – Fingi não entender.




Fingi. Porque ela me conhece tão bem? Droga!
– Você está tenso. O que aconteceu? – Ela insistiu, também fingindo que não percebeu minha simulação.
– O Gabe está namorando...




– Ah! E desde quando isso te deixa assim?! – Surpreendeu-se.
– A Aretha. – Completei.




Ana soltou uma gargalhada e eu fiquei sem reação.
– Desculpa! – Ela pediu sem conseguir parar de rir. – Mas é irônico, pra não dizer o mínimo...




Eu continuei sério e ela parou.
– Desculpa. – Pediu novamente. Desta vez com sinceridade.




– Os pais dela estão sabendo?
– Ainda não. Eles me contaram ontem à noite.




– E então? Como pretende fazer isso?
– Fazer o quê? – Eu estava mesmo confuso agora.




– Bom... Tenho certeza que Gabe veio te pedir ajuda... – Como ela fazia isso? Como Ana conseguia saber tanto de mim? – Aliás... Cadê ele? Dormindo?
– Não. Acho que foi correr, pelo menos é o que acha a menina. – Falei com desdém.




– O quê? Ela está aí? Ela passou a noite aqui?! Já?!
– Não, Ana! Quer dizer... Ela disse que veio agora de manhã...




– Ah... – E ficou me encarando.




– O quê? – Finalmente perguntei depois de um minuto de silêncio.
– Quer que eu fale com ela?




– Você faria isso? Por favor? Ela parece não ter muita rédea...
– Deixa comigo.  Onde ela está?




– Na cozinha... Deixei a Júlia com ela.
E para lá Ana se dirigiu.




Subi para tomar um banho e tentar colocar as idéias no lugar.
Era apenas uma namorada do Gabriel. Não havia motivo pra histeria.
Droga, a quem eu tava querendo enganar? Era a filha da Tara.
Não. Pior. Era a filha do Mark.




Porque Deus quis fazer piada do destino meu filho? Eu sei... Foi porque eu brinquei com a própria sorte, há alguns anos, quando eles ainda eram crianças, e resolvi usar o Gabe como instrumento de provocação de meu desafeto. Só pode ter sido.
Mas que Droga! Eu preciso para de praguejar, droga!
Porque eu fui ser o “tio legal” e agora fiquei incumbido de fazer a comunicação oficial?




Eu comecei a pensar alto.
“Oi, Mark, tudo bem? Não, sabe o que é? Eu vim só te falar que meu filho ta pegando a sua filha... Não, não é piada agora, porque não tem mais graça.”
Mas que droga!




Ana abriu a porta do banheiro sem bater.
– Estou escutando suas lamentações lá do corredor.
– Será que eu posso ter um pouco de privacidade na minha casa?




Ela saiu. Não sei por que falei com ela assim. Ela sempre entrou e saiu sem bater, porque sabia que podia fazer isso. Tinha permissão.  Não havia nada aqui que ela já não tivesse visto ou tocado. Droga.




– Desculpe, Ana. – Pedi ao sair do banheiro.
Ela estava sentada na beirada da minha cama. Não disse nada.




– Eu só preciso organizar meus pensamentos para saber o que fazer. E como fazer.
Ela continuou calada.




– Eu já pedi desculpas. Eu fui grosso, desculpe, desculpe, o que mais posso fazer?
– Se acalmar, que tal? – Enfim respondeu.




– Não entendo porque está reagindo tão mal. Isso é problema da Aretha e do Gabe. Não é seu, nem da Tara e nem do Mark. – Continuou.
– Mas vai sobrar pra mim... Eu sei que vai...




– Seu chilique não me parece ser só por causa disso.
– Ai, Ana... Não começa...




– Não se preocupe, não vou... Mas acalme-se. Ela me parece bem desenvolta. Duvido muito que precise de você pra falar qualquer coisa com os pais. Claro que só podia mesmo ter sido idéia do Gabe pedir pra você.
– Mas porquê?




– Ah, J. Você conhece o Gabe... Gosta das coisas certinhas.
– Mas ontem bem que estava louco para quebrar algumas regras...




– Eu vou adorar ouvir essa história. – Sorriu com malícia.
Eu nunca conseguia resistir a esse sorriso e ela sabia.




Eu a puxei da cama, me aconchegando com um abraço apertado.
– Isso! Faz essa cara pra mim... Acaba logo comigo...
– Deixa de drama, seu cretino!




Acabei por calar sua boca com um beijo.
Eu sentia falta dela. Ana estava sempre de bom-humor, e sua gargalhada normalmente transformava o meu dia. Sempre pra melhor.




Não consigo explicar porque não nos casamos, tivemos nossos filhos e uma vida normal como nossos amigos – com exceção do Herman, é claro. Mas com certeza não foi por culpa dela. Esses momentos me fazem lamentar algumas decisões que tomei.



4 comentários:

  1. Só não entendi uma coisa...
    Com a Aretha ele não reclama da falta de privacidade, mas com a Ana ele reclama? rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
    bjosmil! *.*

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkk, É engraçado ver o Jeysão sem saber como agir com uma garota. .lala.

    brigada, amore!

    ..: Bjks :..

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  3. Seria uma boa o J ter se casazdo com a Ana.
    A Aretha estaria livre

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  4. Hehehe, verdade, Maikon! Mas acho que Jack não estaria tão feliz! XD

    Obrigada, queridão!

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