sábado, 8 de janeiro de 2011

Mentiras

Combinei de pegar as chaves com Rhea na própria casa. Eu fiquei completamente eufórico com a notícia. Era o momento perfeito. Pegaria Aretha na UNESim e a levaria para ver a casa nova, antes mesmo dela viajar. Não precisava mais de desculpas não precisava mais de álibis.


No caminho, a ansiedade e o medo me tomaram. E se ela não gostasse de nada? E se ela achasse que eu não podia ter tomado as decisões sozinho? Mas eu não queria pressioná-la, eu tinha prometido que não faria. Só que eu não estava em sua cabeça. Não podia prever o que ela acharia pressão, ou o que ela acharia traição. Devia ter pensado nisso antes, agora não adiantava nada.


Não era tão grave assim, era? Uma mentira boba, para esconder uma grande surpresa... Que ela podia nem gostar! Deus, eu sou tão imbecil. E como um completo imbecil, pensei que se ela não gostasse, eu podia arrumar outra, alguma que ela escolhesse. Ela sabe que eu faria. Não sabe?


Eu não queria me aproximar muito, com medo que ela sentisse minha tensão, mas não teve jeito. Aretha sempre se pendurava em mim.
– Eu vou morrer de saudades...
– Você é muito exagerada...


– Ah... Eu?! – Ironizou e rapidamente mudou de assunto. – Então, qual é a programação?
– Ah! Eu tenho uma surpresa! – Tentei o máximo falar sem gaguejar ou tremer. Não sei se consegui.


– Surpresa?!?! – Exclamou ainda mais excitada.
– É, Anjo... Surpresa... Vamos?


– Como assim, vamos? Aonde? Eu preciso saber onde vamos pra saber se estou adequada... Não sei se estou pronta.
– Pelo amor de Deus, Aretha... Você é maravilhosa até de shorts e havaianas!


– Mentiroso! Então, onde vamos?
– Se eu contar não vai existir surpresa alguma, mas te garanto, qualquer coisa que você vista estará perfeito pra ocasião. – Foi quando tive a idéia. – Só falta um detalhe...


Lembrei do que Aretha fez comigo em Paris. Pedi que pegasse um lenço antes de sairmos. E conduzi a garota vendada até nosso destino. Obviamente ela tagarelou durante todo percurso, eu quase desisti, mas isso não frustraria só a mim.


“Vai demorar, J?”; “Mas você não pode nem me dar uma dica?”; “A surpresa é um lugar ou é o que está lá?” Eram algumas da perguntas...
Minha resposta era a sempre a mesma: Um pouco mais de paciência, Anjo...


Senti sua respiração acelerar quando parei o carro.
– Chegamos? – A excitação na sua voz era tamanha que eu senti vontade de agarrá-la.
– Arram! – Engoli em seco. Não conseguiria responder mais que isso.


Aretha se debruçou em mim para perguntar:
– Posso tirar? Por favor...
– Ainda não. Mas antes de sair... Eu posso te beijar? – Eu não consegui me segurar. – Você está tão... Irresistível.


– Ah J! Precisa pergunt...

Eu a calei.
Mas fui breve, porque minha mente já viaja para o quarto, e eu a despia de suas roupas.


Dei a volta no carro e abri a porta para ela sair. Eu a conduzi até a entrada da frente. Parei antes de subirmos a escada da varanda.
– Devagar agora... Tem 4 degraus aqui frente, tá? – Alertei.
– J... Você tá me matando...


– Quero que veja o que tem dentro primeiro... Depois voltamos aqui pra fora. – Dizia enquanto avançava.
– Isso já é terrorismo... Onde estamos, Jack?! – Aretha estava mais que aflita.


– Você já vai saber...
A porta da frente estava destrancada e eu abri. Entramos pelo hall, mas Rhea não estava ali me esperando com as chaves.


– Me dá um minuto. – Pedi.

Fiquei confuso. O carro da arquiteta estava lá fora. Eu tinha certeza de tê-lo visto quando cheguei. Primeiro olhei a sala, ela não estava ali. Voltei e fui até a cozinha.


Então eu a vi. Ela estava vestida como para uma festa. Sorria, elegante. Havia champagne e apenas duas taças em cima da mesa. Tudo que pude pensar foi: Oh, meu Deus!


Ao notar minha perplexidade o sorriso em seu rosto se curvou em entendimento e embaraço. Ela sussurrou. Tão baixo que tive que fazer leitura labial:
– A garota está aí? – O que ela esperava?


Eu arregalei as sobrancelhas torcendo para que ela entendesse meu “sim”. Tive medo de falar alto demais.
– Traz ela aqui. – Disse baixíssimo novamente. Depois repetiu frente a minha inércia. – Anda! Traz...


Não precisei. Aretha estava parada agora atrás de mim, e já não estava com a venda. Sua expressão confusa. Parecia a todo custo tentar entender a cena.
– Desculpe, J. Não aguentei esperar...


Eu ainda estava sem ação. Rhea se manifestou.
– Você deve ser Aretha, não é? – Desconfiada, Aretha nada respondeu. – Jack não exagerou nem um pouco quando falou sobre você. Espero que goste do meu trabalho...


Rhea virou-se para mim.
– Bem... Aqui estão as chaves, Jack... – Ela me entregou o molho, depois disse com tanta naturalidade que parecia até verdade. – E o champagne que pediu para vocês está bem ali. Divirtam-se!

E saiu.


Aretha nem precisou perguntar. Seu rosto gritava por uma explicação.
– Anjo, desculpe. Sou um idiota. Eu encontrei esta casa, e achei ela perfeita. Perfeita pra mim, mas também perfeita pra gente. – Traguei um pouco de ar.


– Só que... Eu pensei tanta coisa... Queria fazer surpresa, ao mesmo tempo não queria te pressionar, você é tão nova... Entendo que não queira se prender a uma vida a dois agora. Meu Deus, que experiência você tem? Porque iria querer morar comigo, podendo ir onde para onde quiser?


Aretha apenas me encarava, sua expressão indecifrável.
– Então não falei nada... Mas daí, quando estava indo te buscar me ocorreu: e se você quisesse mesmo? Eu não te consultei nem nada... E se você não gostasse de nada achasse tudo ruim e de mau gosto? Era tarde demais.


– Eu entendi quase tudo, J... Compreendi suas motivações, embora a idéia de você esconder qualquer coisa de mim me atordoe. – Eu estava começando a ficar otimista, quando a verdade ardeu na minha cara. – Mas que mania estúpida de achar que sabe o que é melhor pra mim!!! Eu não sou uma criança, J. Não sou sua filha e não preciso de proteção... Além do mais... Pra onde eu iria sem você?


– Que droga, Jack! Queria estar feliz com a surpresa! Mas estou tão triste com as mentiras! Não houve nenhuma “tarde dos caras”, não é? Quantas vezes você mentiu pra mim?
– Muitas... Todas! Como sempre, estrago tudo... Ando na contramão do amor, faço tudo errado e meto os pés pelas mãos... Eu te avisei isso desde o início...


– Isto é algum tipo de confissão?
– Você pode classificar assim...


– Então você está dizendo a verdade agora? Vai responder qualquer coisa que eu te perguntar?
– Vou. Eu juro.


– Você nunca pediu esse champagne pra gente, não é?
– Não, não pedi. Esse champagne está aí porque Rhea... Rhea, por sinal, é a arquiteta...

Eu me embolava porque eu mesmo não sabia por que Rhea havia feito isso. Como explicar?


– Eu sei quem ela é, Jack...
– Então, bem... Eu não faço idéia... Esta é a realidade!


– Então o champagne era pra vocês dois, certo?
– Sim. E eu soube 5 segundos antes de você.


– Eu não sou retardada, Jack... Porque ia me trazer aqui se tivessem planejado qualquer comemoração juntos?! O que me intriga é porque ela achou que você gostaria de comemorar a inauguração com ela?
– Eu não tenho esta resposta, Aretha. Só ela. Tudo que posso dizer é o que eu acho. Acho que ela como responsável por todo o projeto, ficou tão feliz com o resultado, quanto eu. E quis comemorar...


– Ela sabia que eu estava fazendo uma surpresa pra você. Não deve ter imaginado que eu traria você hoje, provavelmente achou que eu prepararia algo grandioso e especial, tanto foi minha teimosia em esconder tudo. Mal sabe ela o fiasco que sou com esse tipo de coisa...


– Você me promete que não deu motivo algum pra ela achar que poderia ter uma festa particular com você?
– Anjo, olhe nos meus olhos e você mesma vai poder responder essa pergunta. Mas se ainda assim precisa que eu te diga... A resposta é não. Eu nunca dei motivo algum pra ela pensar assim, e nem acho que ela pense.


Embora parecesse ter me entendido e aparentemente me perdoado pelas mentiras, ainda havia algum resquício de mágoa ou decepção em Aretha. Digo, por que apesar de todas as minhas investidas, não consegui “estrear” a casa com ela naquela fatídica véspera de viagem. Ela tão pouco quis beber do champagne. Eu mereci.


Passamos a noite juntos, apesar de tudo. Ela é meiga e sincera sempre que diz que vai sentir minha falta, mesmo que seja por poucos dias. Dormimos abraçados na cama nova em folha.


Levantei antes de clarear, para comprar algo para o café da manhã. Não tínhamos jantado na noite anterior e não havia nada pra se comer na casa. Provavelmente Aretha acordaria com fome. Fui a pé e sem minha camisa, pois Aretha estava dormindo com ela. A vizinhança não pareceu gostar muito. Comecei com o pé esquerdo, ótimo!


Aproveitei que ela ainda dormia quando voltei, preparei o desjejum e levei para cima, no quarto.
– Anjo... Acorde... Vai perder a hora... – Chamei Aretha que dormia profundamente.


Levou alguns minutos até que Aretha se ajeitasse. Eu coloquei a bandeja com o café na cama, e sentei em frente a ela.
– Vai querer carona até sua casa? O que você combinou com o Thales?
– Ah... O Thomas ia sozinho no carro e pediu pr’eu ir com ele...


– Claro, o Thomas! – Não consegui esconder minha insatisfação.
– Se isso te aborrece, eu não preciso ir no carro dele.  Posso ir com o Thales e a Alanis, o que na minha opinião, não faz diferença nenhuma, mas respeito seu ciúme tosco! – Retrucou malcriada.


A droga é que ela tinha razão, em parte. Eu estava com ciúmes, fato. Mas tinha absoluta certeza que o Sr. Sorriso estava só esperando a primeira oportunidade para a por as mãos nela. Com todos os dedos, e provavelmente os dentes também. Visualizei a cena e gemi.


Eu precisava ser mais controlado. E demonstrar a Aretha que confiava nela tanto quanto ela confiava em mim. Mas porque isso é tão difícil? Logo com ela que já me cansou de me provar sua honestidade...
– Desculpe, Anjo... Tudo bem... Se quiser fazer companhia pro Thomas, eu vou tentar não pirar com isso.



4 comentários:

  1. Sera que dessa vez ele aprendeu? Será q foi a ultima burrice dele? affe.. se não foi só matando então... aushuahsuhausha
    Ciume do Thomas? só pq ele é lindo de morrer? kkkkkkkkkkkkkkk


    Bjo

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkk, Será? Será? Será?
    Acho que Jack nunca vai mudar algumas coisas... Assim como eu =$

    Mas... Quem no lugar dele não sentira ciúmes do Thomas, haushuahsuah!

    Obrigada! Bjks!

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  3. Acho que ele aprendeu a lição... Mas não seria o J se não cometesse outras burradas... lalalalalalalala
    Mew, o pior que eles sabem mesmo quando um cara tá interessado na mulher deles! Mesmo elas não notando nada, eles percebem!?
    Por isso nem acho que é nóia do loirão... Quem sabe a Aretha cansa de suas mentiras e corre pros braços fortes e bronzeados do Sr. Sorriso?

    AMO! *.*
    bjosmil!

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  4. Hahaha, é verdade, talvez não seja nóia, mas cara, como ele fica chaaaaaaaaaaaaaaaaaato! ¬¬"

    Tomara que tenha aprendido mesmo! haushaushahu!

    Obrigada! *-*

    Bjks

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