domingo, 9 de janeiro de 2011

Como Está Você?

Aretha viajou e eu resolvi tirar aquela semana para fazer a minha mudança. Só levaria meus pertences pessoais. Todo o resto deixaria com a casa, e a nova já possuía tudo o que eu precisava.


Também comprei um carro novo. Um R8 vermelho. Esportivo. Eu sei, eu sou patético. Deixei a BMW com a casa, – Júlia podia ficar com ela ou vender – mas levei meu conversível. É de estimação. Só daria aquele carro para o Gabriel, ele era o único que compreendia meu amor por aquele automóvel.


Rhea me ligou para pedir desculpas. Confirmando o que eu havia suspeitado, ela não imaginou que eu levaria Aretha sem preparar alguma recepção especial. Mas se havia algum interesse mais que o mero profissional, talvez eu nunca saiba. Eu não iria perguntar, por mais curioso que eu estivesse.


Eu ligava para Aretha todos os dias. Precisava marcar território mesmo sabendo que Thales estava com ela. Afinal, eu sei que meu cunhado devia estar aproveitando ao máximo o tempo de férias e o local aprazível com Alanis.


Aparentemente eu estava preocupado à toa. Aretha sempre tinha palavras carinhosas para mim. Mas minha mente insana imaginava o monitorzinho comendo com os olhos aquela menina tão distraída.


Ana chegou no início da outra semana e eu fui buscá-la no Aeroporto. Ela não voltou sozinha. Com Ana estavam, além de sua amiga Eve, outro homem. Eu não sabia quem era, até ser apresentado. Alessandro Di Rossi. Apesar de ser o dono da galeria londrina onde Eve exibe algumas de suas obras, ele estava acompanhando Ana.


Eu convidei a todos para ficarem em minha casa, mas educadamente Ana recusou, alegando que Herman já havia estendido o convite feito a Eve, para ficarem com ele. Eve estava vindo a SimCity para o vernissage de um amigo na cidade.


De qualquer forma, acho que Ana não se sentiria a vontade na minha casa nova, com Aretha circulando a vontade e tudo mais. Mas pensei dela ficar na que agora era de Júlia. Acabei por chamá-los para almoçarmos algum dia até domingo, dia do casamento. Meu Deus... Faltava tão pouco agora!


Aretha chegou dois dias depois. Havia um desejo latente em nosso beijo de reencontro, uma falta que precisava ser extinta, uma vontade que precisava ser atendida, e matamos a saudade impetuosa, enérgica e calorosamente.


Depois descemos para a cozinha, na ânsia de saciar outro tipo de fome. Eu preparei uma refeição rápida e nos sentamos para comer. No meu egocentrismo, achando que tudo estava bem, demorei a perceber que, apesar das horas tórridas de amor, Aretha estava calada, coisa completamente fora do normal.


Já havíamos encerrado mais da metade da comida quando perguntei:
– Está tudo bem, Anjo?
– J... Eu preciso te contar uma coisa e te pedir outra.

A frase saiu de uma vez só, parecia uma palavra única, demorei a decifrar.


Antes que eu pudesse esboçar alguma resposta, ela continuou.
– Eu vou começar pelo pedido... Por favor... Por-fa-vor – repetiu – Prometa que nunca mais vai mentir pra mim. Nunca mais, seja qual for o motivo. Promete?


Seria muito fácil mentir de novo respondendo sim de forma displicente. Aquilo não parecia um pedido e sim um ultimato. Não que eu fosse um mentiroso nato, mas precisava tomar uma decisão rápida. Dali pra frente, era um juramento.
– Prometo, Anjo...


Ficou um silêncio, enquanto ela me fitava. Possivelmente tentando descobrir no fundo dos meus olhos, se eu estava sendo sincero, enquanto eu esperava ansioso, o que ela disse ter para me contar. Se ela demorasse mais um pouco talvez meu coração saísse pela boca.


Ela largou o prato na mesa e levantou antes de começar, aumentando a dramatização da coisa toda.
– Bem... O que tenho pra te dizer é que te devo desculpas...

Preciso confessar que pensei o pior.
– Desculpar pelo quê? – Havia um leve tom de histeria em minha voz.


– É que... Eu já tinha aceitado a carona do Thomas na ida... Achei que não teria nada de mais aceitar novamente na volta...

O ar me faltou. A cena do Sr. Sorriso Simpático com as mãos em cima dela me voltou junto com a comida que se agitou dentro do meu estômago. Aretha parecia mais receptiva na imagem desta vez.


“Daí que... No meio da viagem, Thomas do nada parou o carro no acostamento. – Eu gelei e não abri a boca, com medo de vomitar em cima da mesa. – Eu achei que tivesse furado um pneu, ou fervido o motor, eu não entendo absolutamente nada disso, você sabe...”


Sim, eu sabia, mas não vinha ao caso. Minha vontade era gritar para ela parar de enrolar e ir direto ao assunto, mas eu ainda estava travando uma guerra com a refeição.
– Mas Thomas não saiu do carro. Ficou me encarando e... De repente... Confessou!

Eu demorei dois segundos pra entender. Esperava uma confissão dela. A dele não era exatamente uma novidade. Pelo menos pra mim.


– E??? – Consegui falar. É claro que devia ter algum “e”...
– Como assim, “e”? Foi isso! Não me torture com seu sarcasmo, J. Ele disse que estava gostando de mim! Como você tinha me dito, e eu não acreditei. Desculpe.


É tão bonitinha a maneira dela falar... “Ele estava gostando de mim...” Uma ova! Eu sei bem o que ele queria... Queria pegá-la, tocá-la, beijá-la, acariciá-la e ahhhh! Tive que parar de pensar, a imagem na minha cabeça era insuportável. Inspirei fundo antes de perguntar:
– O que você falou pra ele, Aretha?


“Pedi pra ele ligar o carro e andar. Disse apenas que ele já sabia o quanto eu te amo, não precisava dizer mais nada. A gente voltou com um silêncio horrível. Quando ele me deixou na porta de casa, pediu pra que eu não ficasse chateada, que ele precisava dizer e implorou para que continuássemos amigos.”


Eu me pus de pé. Não ia conseguir engolir mais nada mesmo.

– Jack... Eu gosto muito do Thomas... Não gostaria de perder sua amizade, e senti sinceridade em suas palavras... Mas vou entender se você não quiser mais que ele frequente a minha casa, ou que a gente almoce e estude junto... Enfim...


Por quê? Por que ela tinha que colocar as coisas desta forma? Não seria muito mais fácil ela fincar o pé e dizer: “Eu vou continuar amiguinha do panaca e pronto!”? Tinha que jogar essa responsabilidade pra mim? Logo pra mim?! A resposta óbvia seria: eu não quero ele a menos de mil quilômetros de distância de você! Mas claro, ele também poderia comer veneno de rato por engano.


Infelizmente, eu precisava mostrar alguma maturidade e continuar depositando nela a mesma confiança, que ela sempre provou merecer.
– Se isso vai te deixar feliz, Anjo...


Quase na véspera do casamento, Ana ligou para combinarmos o jantar. Foi uma situação um pouco incômoda, eu achei. Não sei se só pra mim. Para Ana talvez. Não tanto para Eve, Herman, Ronaldo e Clarissa. Aretha parecia estar na cozinha de sua casa.


Entre eu e Ana estava tudo resolvido. Mas apesar de ter tocado minha vida e me apaixonado, não tive oportunidade de encontrar e conversar com Ana sobre ela mesma.  Por puro acaso, a oportunidade surgiu quando topei com ela saindo do toalete.


Mas claro que foi Ana quem começou o assunto. Eu sempre me embolava.
– Você está muito bem, J. Muito bem mesmo! Apesar de uma orelhinha de ciúme e um rabinho de inveja, fico feliz por você.

Achei graça na sua sinceridade, por mais acostumado que eu estivesse.
– Eu ficaria mais tranquilo se soubesse que está feliz por você mesma e não por mim.


Ana sorriu. Ela sempre tinha um sorriso sincero guardado com ela. Parecia que nunca na vida havia passado por qualquer sofrimento, o que não era necessariamente uma verdade.
– Eu também estou bem, Jack... Talvez não tenha chegado no mesmo nível extasiante de você e Aretha, mas eu e Alessandro nos entendemos bastante bem.
– É que eu pensei que...


– Nós não temos exatamente um compromisso, se você se refere ao Henry... – Disse, Ana, antevendo minha pergunta, como cansava de fazer. – Você sabe... Eu não tenho mais um porto. Mas Alessandro parece muito disposto a me dar um... Estou pensando com carinho... Afinal, ele é culto, gentil, carinhoso e tem o sangue quente dos italianos... Você me entende... – Ela riu.


Eu ri de volta:
– Claro que entendo, Ana... Alessandro também deve saber a sorte que tem.
– Obrigado, J... – Senti que Ana ficou desconcertada com o elogio. Isso sim, era algo imprevisto. – Aretha tem uma energia e tanto!

Ana não fazia idéia.


– Chega a me deixar meio tonto, às vezes...
– Eu imagino! O tempo é cruel, Jack. Por mais saudável que se leve a vida...


Ana estava certa. Daí toda a minha urgência, e toda minha preocupação. Que tipo de futuro eu estava oferecendo a Aretha? Seu amor resistiria às minhas manias senis? Até quando? Nem me toquei que estava fazendo contas...


– Pára, Jack! Às vezes você é tão neurótico! – Ela acertou novamente. Não devia, mas sempre me impressionava.


Aretha havia descido e nos encontrou.
– Ah! Aí estão vocês! – Falou descontraída. – Queremos pedir as sobremesas...
– Então vamos! – Ana respondeu com simpatia. – Quero torta de Nectarina... A daqui é simplesmente incrível!


– Jura? – Perguntou Aretha já empolgada. É tão fácil animá-la.
– Arram! – Veio a resposta de Ana, no mesmo tom.


Aretha falava incessantemente sobre o jantar enquanto voltávamos pra casa. E ainda quando chegamos. Agora o assunto era Eve.
– Nossa, ela é incrível! Sem contar que é linda! Se o tio Herman não levar a Eve a sério ele só pode ser anormal! – Bufou.

Bom, Herman é anormal, não tenho dúvida quanto a isso.


– Aliás minha auto-estima foi parar no meu pé com a Ana e a Eve sentadas na mesma mesa que eu!
– Você é mais bonita que as duas juntas, Anjo.


– Rá! Até parece! – Ironizou.

Eu achava. Ela se jogou de qualquer jeito no sofá, exausta. Eu ainda achava. Mas sei que ela não ia acreditar.


Eu sentei ao seu lado, e ela se empoleirou em mim.
– Fiquei admirado com sua reação hoje. Achei você tão segura...
– Não se iluda, J... Eu não me senti segura nem um minuto.


Eu estava surpreso.
– Não foi o que pareceu...
– Jack, eu não posso entrar em crise na frente da mulher responsável por estarmos juntos. Eu devo minha felicidade a Ana! Mas é claro que sinto calafrios quando ela está do seu lado! Meu Deus, é a Ana Vaz! Diva, musa, maravilhosa. Desejada por 9 em cada 10 homens do planeta!


– Como se não bastasse nada disso, ela foi sua mulher! Desde antes d’eu nascer! Chega a ser covardia eu querer competir! No entanto, esta mulher foi na minha casa, me convencer de que eu devia lutar por você. Eu nem sei como classificar a atitude dela!
– Você nunca vai me contar o conteúdo completo desta conversa, não é?


– Não. – Ela respondeu tão categórica quanto divertida. – E também duvido que Ana conte.

Ela tinha toda razão.



2 comentários:

  1. Weeeeee
    Eve! Fico tão feliz de ver uma das minhas personagens na sua história! *.*
    Realmente Herman é anormal... Mas a Eve também não é chegada a relacionamentos sérios...
    Óbvio que o Sr. Sorriso tava interessado. Aretha é tão tolinha... E a arquiteta idem! Idem pro J, tão tolinho quanto a Aretha!

    AMO!
    bjosmil!*.*

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  2. kkkkkkkkkkk, Eu adoro a Eve, foi uma honra pra mim! E é por isso que eles se dão tão bem! Hauhsuahushauh! Aretha pode ser tolinha... O Jack é sonso, FATO! Vc foi boazinha com ele hj! Hauhsuahsuahsau!

    Bjks!

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