terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Jantar


Gabe e Alanis vieram quarta-feira a noite para jantar. Júlia estava viajando com Ana novamente então seríamos só nós três. Eu gostava de cozinhar, principalmente em ocasiões como esta, mas desta vez passei a bola para Claudinete, para  poder conversar um pouco mais com os dois.


– E aí, meninos? Como foram os primeiros dias lá? Gente nova na república?
– Nada, dindo... Nada de novidades por lá... Mas o Thales e a Aretha foram pra UNESim, ta sabendo? O tio Mark alugou uma casa pra eles lá no campus...


Gabe mais uma vez fez careta à menção do nome do amigo.
– É... Tô sabendo sim... – Respondi, fingindo não notar.
– Gabe não conhece ainda... – Alanis parecia tentar provocar Gabriel com o comentário. – Dindo... Acredita que Gabe ainda não ligou pra Aretha? – Dedurou.


Gabriel ia começar a discutir mas Alanis não deixou:
– Desculpa, Gabe, mas isso ta errado... Você tem que falar com ela, nem que seja pra terminar... Se é isso que você quer... Dindo, fala pra ele!


Alanis tinha razão. Alguma satisfação pra menina ele tinha que dar, havíamos conversado sobre isso na nossa viagem, por que ele estava agindo de forma tão displicente?
– Se não se importa, Alanis, isso é problema meu e não quero discutir com você. – Gabriel revidou.
– Aretha é minha amiga, Gabe... Assim como você. Ela estava amarradona de entrar pra UNESim, e completamente apaixonada... E agora... Eu nunca a vi tão triste...


Senti um aperto no coração. A última lembrança que tinha de Aretha, era seu rosto suplicando que eu ficasse mais um pouco em sua companhia, e eu lhe neguei. Por conta de um sentimento idiota e egoísta... Talvez ela quisesse falar de Gabe como fez da outra vez. Talvez ela só quisesse chorar no meu ombro. Eu lhe neguei. Que droga!


– Tudo bem se não quer falar, Gabriel. Só quero que o Dindo saiba o quão idiota você está sendo...
– Vamos conversar sobre outras coisas, que tal? – Apaziguei.


– Quando a Dinda volta? – Alanis quis saber. Eu não tinha resposta. Não apenas porque Ana não voltaria mais para cá. Mas porque Júlia também não havia dado notícias
– Não sei, Alanis... Não tem falado com ela?


– Não... Falei com ela só antes de ir para o chateau... Bom... Eu ligo depois...

Carmita escolheu Ana para ser madrinha de Alanis, assim como Marley já tinha feito o convite a mim, antes mesmo de Carmita engravidar.


Claudinete interrompeu nossa conversa para avisar que o jantar estava pronto, e nos sentamos à mesa. Mas a conversa tomou um rumo pior. Pelo menos pro Gabe.


– A casa deles ta linda, Dindo! Claro que o bom gosto é da Tia Tara e da Aretha... Se dependesse do Lê, só teria a cama. – Ela riu ao falar. Gabe não.
– Lê? Quem é Lê? – Perguntei curioso.


Gabriel fechou o cenho de novo:
– Ah! É como eles se chamam agora... La e Lê! Não é bonitinho? – Debochou.
– Nossa, Gabriel! Que mau-humor! – E voltou-se ara mim. – Ah, Dindo... Eu e Thales estamos namorando... Desde as férias... E ele me chama de La. Eu o chamo de Lê...


– Ah, estão? Legal... O Thales é legal...
– É um galinha! Ela sabe! – Gabe reclamou.


– Ai, Gabriel! Já conversamos sobre isso!
– Ele é? – Perguntei. Como padrinho, claro que isso me importava.


– Claro que não, Dindo! Ele só não tinha encontrado a garota certa. – Disse num sorriso malicioso.


Depois disso pediu licença para ir ao banheiro e levantou da mesa. Não deixei passar a oportunidade de estar sozinho com Gabriel e puxar-lhe as orelhas.
– Como assim, você ainda não falou com a Aretha? – Falei duro, mas sussurrando, para não correr o risco de Alanis escutar.
– Falar o quê, pai? O que eu vou dizer pra ela?


– Isso é você que tem que saber!
– Pois é, mas eu não sei! Eu não sei!


– Gabriel, a garota estava horrível. Ela estava sentada na mureta aqui de casa quando cheguei. Te esperando. Isso não está certo!
– Pai... Tenho medo dela me achar um babaca sem coração.


– Não se preocupe, porque com esta sua atitude ela já deve estar te achando um babaca sem coração! Por Deus, Gabriel! Descubra o que sente, ou termine, mas não faça isso com a menina! Isso não é atitude de homem!
– Ah, ta! Olha só quem falou!


Aquela frase foi cruel. E ele tinha plena consciência disso.
– Não é porque eu fui um verme, que você também tem que ser! Muito obrigado por retribuir jogando na minha cara, confissões que eu te fiz por querer o seu melhor! Valeu mesmo, Gabe!


Agora éramos dois arrasados moralmente sentados numa mesa, quando Alanis voltava.
O silêncio sepulcral e o clima pesado deixaram minha afilhada sem jeito.
– Ta tudo bem com vocês?
– Não! – Gabriel respondeu grosseiramente.


Depois levantou-se.
– Perdi meu apetite. Estou te esperando no carro, Alanis.
– Mas... Gabe... – Ela tentou falar.


– Não precisa! Eu levo Alanis depois, você pode ir se quiser. – Por dentro, eu desmoronei. Mas ele precisava ouvir.


Ouvimos a porta bater com força e por um tempo ficamos em silêncio. Obviamente eu também não tinha mais nenhum apetite. E Alanis, sem graça, acabou largando a comida no prato.


– Eu não devia ter falado do Thales... – Ela lamentou depois de um tempo.
– Não foi o Thales... Ou pelo menos não foi só ele, querida.


– Porque o Gabe resolveu pensar que é meu pai agora?

Eu não podia dizer pra ela que não era exatamente isso. Os palpites eram meus, e mesmo que a confissão de Gabriel não fosse tão incerta, eu não poderia revelar sem sua autorização.
– Eu não sei, Alanis... Eu não sei...



2 comentários:

  1. Eita, o preço do passado do loirão cobra seu preço! O exemplo... A gente se esquece disso na juventude... Gabe que era tão bom menino, agora agindo como um menino egoísta! rsrsrsrs
    O que uma dupla de ás não faz com um anjo? :}

    Amo!
    bjosmil! *.*

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  2. Hehehe, raramente a gente pensa nas consequencias a longo prazo quando se é novo, não é? XD Bem, eu pelo menos nunca pensei, ashuahsuahsuah! Vacilão completo o Gabe agora... Filhota arrasando corações... ;]

    obrigada, queridona!

    bjks

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