quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Breakfast

Não consegui me concentrar em absolutamente nada com aquela garota observando cada passo meu. Quando tropecei no bico do meu próprio tênis e quase me espatifei na sua frente, decidi que era o momento de tomarmos nosso café.
– Até que nem demorou... – Ela comentou sorrindo com toda sua ingenuidade.


Sentamos na lanchonete que Aretha escolheu e eu perguntei o que ela queria comer. De minha parte, estava sem nenhum apetite.
– Por favor, um crepe com manteiga e mel... – Pedi à garçonete.


– Você não vai comer nada? – Aretha perguntou. 
– Pode trazer a mesma coisa pra mim... – Seria mesmo descortês de minha parte não a acompanhar.


– Então... Jack... Quer dizer que você namorou a mamãe, heim? Babado fortíssimo...

Ah, não! Qualquer assunto menos este! Este não!
– É... – Respondi monossilabicamente. Não vou dar trela pra isso.


– Como assim, “é”?! Você não vai me contar? Eu quero saber tuuuuudo.
– Mas sua mãe não já te contou?


Aretha revirou os olhos.
– Duvido muito... Além do mais... Sua versão deve ser muito mais interessante...

Eu não apostaria nisso.
– Não foi diferente de qualquer namoro, anjo. Começou e acabou. Está lá, no livro que o Mark escreveu...


– Eu não li, mas continua não sendo a sua versão... Não vai mesmo me falar, né? Nunca?

Porque uma menina não se interessaria em ler a biografia que seu pai escreveu sobre sua mãe? E o que ela quis dizer com nunca? O que me faria mudar de opinião?
Ainda bem que fomos interrompidos pela garçonete que trazia nossos pratos.


Durante algum tempo, ficamos em silêncio. Eu enrolei um bocado com minha comida. Estava difícil de engolir. De repente ela soltou:
– Desculpe, não quis ser indiscreta... Fiquei apenas curiosa... Nunca havia imaginado... E depois... Vocês viajavam juntos... Devia ser muito esquisito...

Ela nem imaginava o quanto.


– Não precisa se desculpar, Aretha... Eu só não me sinto...
Ela não me deixou terminar:
– Estou com saudades do Gabe. – Sua boca se curvou numa expressão que não gostei de ver. 


– Hey, anjo... – Eu estava tentando improvisar o que falar como consolo, mas novamente fui interrompido, desta vez pelo meu telefone. – “Pera” um pouquinho...

Eu já sabia quem era pelo toque.


Levantei para atender:
– Oi, Gabe!! – Ao ouvir aquele nome, a expressão de Aretha mudou. – Você não vai acreditar!! Estávamos falando de você agora!!


Aretha levantou e começou a gesticular desesperadamente.
– Eu e Aretha... – Continuei.

Então ela não agüentou:
– Eu quero falar com ele! Jack! Eu quero falar com ele!


Eu já tinha entendido isso.
– Não... Estamos na rua, tomando café da manhã... – A garota não parava. – Espera! Ela quer falar com você.


Eu passei o telefone para Aretha, que saiu quicando e falando alegremente.
– Oi, Gabe! Estava com saudades! Como está tudo aí?


Não quis escutar. Fui para o banheiro para lhe dar alguma privacidade. Minha vontade era meter minha cabeça embaixo da pia. Mas não saberia como me explicar.


Quando retornei, Aretha já havia desligado o telefone e voltado ao seu lugar na mesa.
– Desculpa, você tava demorando a voltar... Gabe disse que ligava depois.
– Tudo bem... 


Eu me sentei e observei. Aretha não tocou mais na comida.
– Ele disse que ta muito legal lá. – E fez uma careta antes de continuar. – Tem uma menina da idade dele na casa... Uma tal de Eduarda... Que nome horrível!
– Você acha? – Tentei parecer casual.


– Tudo bem... Prefiro acreditar que ela seja tão horrível quanto seu nome.
– Eu gosto de Eduarda... – Ta, admito. Falei pra provocar. Voltei a ter 18 anos.


Aretha bufou.
– Já terminou, anjo? Posso pedir a conta e te levar pra casa?
– Pode. Mas não vou pra minha. Vou pra sua. Ainda quero o meu presente.


 – Seu presente continua no meu carro. – Confessei. – Não tirei ele de lá.


Aretha adorou o cordão com pingente, e colocou-o assim que abriu, ainda dentro do carro. Eu achei mesmo que ela gostaria, apesar de não conhecer bem seu gosto.
– É lindo, J! Foi você mesmo que escolheu?
– Fui... Porque a dúvida?


– Ah... Sei lá... Homens geralmente não são muito bons em escolher presentes...
– Eu devo ter dado sorte, então... – Brinquei.


Chegamos em frente a porta de sua casa, no Campus.
– Não esquece de levar o presente do Thales. Ta aí no porta-luvas também.
– Obrigada, Jack... Por tudo...

Mas era eu quem deveria agradecer.



2 comentários:

  1. Tropeçando no bico do tênis... Sem fome... Voltou a ter 18 anos... rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
    Morro de rir com o J!

    Amo!
    bjosmil! *.*

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  2. kkkkk, ele tb me mata, Mita! Até quando vai tapar o sol com a peneira?

    bjks!

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