segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Desculpas

O dia amanheceu e, apesar de exausto, resolvi levantar. Pensei em aparar a grama, lavar o carro, ou limpar o banheiro. Não eram tarefas que eu gostasse de fazer. Mas precisava ocupar minha mente. Se eu tivesse experiência de alguma coisa, juro que procuraria um emprego.


Meu celular tocou. Olhei. Era Aretha. Não atendi. Deixei se esgoelando até que parou. Voltei a fazer o que estava fazendo antes: nada.


Não passou mais de um minuto e ele tocou outra vez. Achei melhor atender. Tenho certeza que ela seria capaz de vir até aqui.
– Alô! – Falei secamente.


– Eu disse que você teve uma dor de barriga súbita e incontrolável pra quem se deu ao trabalho de perguntar por você! – Disse Aretha malcriadamente do outro lado da linha.

Não respondi. De qualquer maneira, era melhor do que se ela tivesse dito a verdade: que eu havia tido uma pane mental.


Aretha pareceu sentir meu silêncio. Seu tom de voz mudou completamente quando me perguntou:
– Foi alguma coisa que eu falei? Me desculpe! – Meu Deus! Ela estava achando que era culpa dela!
– Não, anjo... Claro que não... Eu só... Estava mal-humorado.


– Não parecia... Da próxima vez tente me dar alguma dica...
– Aretha... O que você quer?

De verdade. Eu queria saber. Não sei se ela entendeu minha pergunta.


– Eu to tentando entender o que te fez sair daquela maneira. Sem falar comigo. Nem com seus amigos.
– Eu já disse. Estava de mau humor. Desculpe.


Ela pensou um pouco antes de responder.
– Já sei! Você está assim por causa da Ana, não é?

Hã?! Demorei pra pescar, mas acabei respondendo:
– É... Isso! A Ana... – Menti. – Estou assim por causa dela...


– Eu posso ir até aí se você quiser conversar, Jack...
– Não! Aretha... Olha... Eu não quero, e se você não se incomoda, eu estou um pouco ocupado agora... – Menti de novo. Agora descaradamente.


– Ok, entendi... Mas você ainda está devendo meu presente.

Eu havia comprado para ela uma jóia. Um cordão de prata, com um pingente. Só agora me dava conta do quanto poderia ser mal interpretado. O pingente tinha um formato de coração e tinha sido lapidado metade em ônix, metade em marfim.


– Você disse que minha presença te bastava...
Que resposta foi essa?!

– Eu menti. Ou preciso de uma desculpa para ir aí.


Aretha não precisa de desculpas para vir aqui. Nunca precisou. Mas não queria que ela viesse. Eu estava me sentindo estranho e não estava gostando do que meus instintos me diziam. Era melhor manter distância.


– Preciso desligar, anjo. – Eu não precisava, eu queria.
– Ta... Tudo bem... Um beijo, J.


Na semana que se seguiu eu me dediquei mais do que nunca à academia. Pelo menos todo aquele esforço físico me ajudava na hora de dormir. 


Gabriel ligou para dar notícias, estava satisfeito com os donos da casa onde estava. Pelo que falou tinham garotos de sua idade, o que já ajudava bastante a se adaptar na faculdade lá. Fora isso, o telefone pouco tocou e fiquei imaginando se eu havia sido rude com a garota. Ela não tinha culpa d’eu estar tão deprimido a ponto de embolar tudo na minha cabeça.


Eu mal sabia em que dia da semana estávamos. Ou em que dia do mês. Vesti meu jogging e saí pra minha rotina de exercícios matinais. Mas tive uma surpresa ao pisar na varanda.
– Bom dia, J! – Cumprimentou Aretha, do quintal da entrada.


– Aretha... Oi... Você mudou o cabelo?

O que há de errado comigo? Eu devia ter perguntado o que ela estava fazendo aqui àquela hora da manhã. Ou porque ela não estava no campus estudando.

– Você gostou? Eu não sei... Estou me acostumando ainda... – Ela respondeu.


– Está lindo... – Eu não tinha mais controle sobre minhas próprias palavras? Vou ter que usar “Silver Tape” ou o quê? – Você não devia estar em aula a esta hora? – Finalmente, algo conexo.
– Hoje é feriado, Jack! O que há com você? Parece que caiu de um asteróide!


– Sou um velho aposentado, anjo... Talvez começando a caducar... – Eu podia usar isso como desculpa pra mim mesmo?
– Pára de falar besteira... Já se olhou no espelho? Metade dos meus amigos não estão em forma como você... Eu vim te convidar pra tomar um café da manhã... Vamos?


– Eu... Ia correr na praia, Aretha...
– Ah, tudo bem... Eu te faço companhia, depois a gente vai...


 – Você não me parece vestida para correr...
– Ah, mas eu não vou correr... Não mesmo... Eu sou nerd, esqueceu? Nerds não correm na praia... – Eu tive que rir. – Eu só vou até lá com você. Eu me distraio com qualquer outra coisa, enquanto espero você se matar.



2 comentários:

  1. Ele vai se matar mas por outra coisa, não pela corrida em si... rsrsrsrsrsrsrsrs
    Amo!

    bjosmil! *.*

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  2. Huahsuahsuash! Ah, Mita, me divirto relembrando, sabia? obrigada por compartilhar! Te adoro!

    ..: Bjks :..

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